domingo, 13 de dezembro de 2020

     Cupins, sem cerimônia

  de um poema de Leminski

        banquete de colônia

O sertão e o nada

 

 

Como você sabe

o mundo inteiro cabe

embaixo do Juazeiro

Entre o inverno

o verão

o sertão e o nada

do que é escrito no cabo da enxada

meu pai se fez doutor

Não aprendeu do amor

por que do amor não se aprende

Nessas terras de mulheres e homens fortes

antes de tudo o verbo

que quando se faz carne

a gente come

sem dó nem cerimônia.


domingo, 27 de setembro de 2020

Está traçado algum plano,

              se não me engano,


entre as esperanças de Gil

 e o ceticismo de Caetano.

Ela 

Amanheceu pra poesia


Pisar em folhas secas

E sonhar com asas de passarinho é seu regalo


Ela

Caminha 

Com pés de Barros 

Os fios

Brancos

Das barbas 

de Campos

Caem


Deixando 

Sinais

De poesia


Pa

     Lavra

Do velho veio

Da mina

A sílaba sibilina 

Entrando em transe na rima

Certa a mente vaticina

O anjo escondeu de Maomé

Se perdeu nas leituras de Calvino

Por acaso

A verdade absoluta

Só foi revelada a Jean-Paul Sartre

A liberdade é nosso único destino

ESTRILHAS



Desejo 

Explorar a geografia de teu corpo

Descer e subir por trilhas abertas

Nem erradas               Nem certas

Linhas tortuosas

                        por onde se escreve

                                                poesia.  

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Passeio


Passeio
Numa trilha
                  Entre os lençóis e o travesseiro
Da boca ao púbis
Da coxa ao seio.

Insulamento



Lento
Passa o tempo
Areia parada
No fundo da ampulheta
Um pé dentro
Outro suspenso
Tenso
Paira sobre o medo
 Desde cedo
Aprendi a me insular
Me equilibro
Abro um velho livro
Leio um poema
Mesmo que tema
Pelo erguer de uma nova onda
É quase certo,
Resistiremos.
Desejo,
No entanto,
Existir de outro modo
Da minha ilha
Olho o mundo
Com receio
Piso de leve
Sobre as areias do tempo
E olho temeroso
Para onde não quero voltar.

sábado, 21 de março de 2020

Recolho as pedras do caminho
e faço a minha barricada
A revolução não vai ser televisionada
nem precisará de facebook
por enquanto
eu aguardo ansioso
e trabalho com as formigas
por que, mais dia menos dia
isso tudo vai explodir
a burguesia vai cair,
a branquetude,
o patriarcado.
E aí! Você fica de que lado
Brado: Para onde foi o sangue derramado
das veias abertas da América Latina?
Alimenta a fina flor da insurreição!
no meu peito
um coração que ninguém manda,
no meu peito
um coração que pulsa
junto a cada povo que se levanta.
Anda!
Caminha!
Avança!
Já foi plantada a semente da revolta...
Pra senzala ninguém volta!
me solta
que hoje nada está tranquilo
creio ter ouvido um estribilho:
"De pé ó vítimas da fome!"
Do outro lado alguém grita meu nome:
"Ô Zé Povinho!"
Recolho e atiro as pedras do caminho.
Em cada país do terceiro mundo
uma intífada
a revolução não vai passar no fantástico
ou irromper no Faustão
Não!
Os plebeus que se conformem
com o grito ensurdecedor das ruas.
Jovens mascarados
e moças nuas...
é a vida que explode como se transformasse em carnaval
(não vejo nisso nenhum mal).
A verdade vai bater em sua porta e lhe disser:
não espero nem mais um instante!
Isso mais dia ou menos dia
mas, não espere sentado
por que não vai ser televisionado
e nem vai passar
em um cinema perto de você.

Sonhar,
mergulhar
no
desejo
e ficar
como
em
âmbar.