quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Meu desespero não é poético
Meus desejos não são líricos
a fome do mundo me cerca
da matéria viva do cotidiano.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ao deus dará!

...E Deus criou os céus,
a terra e o Homem.
no sexto dia contemplando a criação, disse:
- QUE PORRA É ESSA!!!
e nunca mais criou nada,
deixando os homens ao deus dará.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Nem ponto
nem vírgula
me separam
do infinito

CANÇÃO DE UM FILHO DA PUTA

Que consagrem-se os amigos
que me trouxeram até aqui
com adornos místicos
e uma grande e brilhante auréola

Que queimem meus inimigos
que me pintaram
nos muros de sôdoma
como um grande demônio

Estavamos todos perdidos
quando caiu a noite
todos nós jogados
todos pelas sargetas

Irmãos,
filhos da velha puta
mãe dos homens
mãe dos desgraçados
os olhos da verdade
estão cegos...
Ó mãe dos desgraçados
levai-me para os sórdidos recantos da escuridão
acalenta-me entre os seus
alimenta-e com tudo o que é vil
Ó mãe, ó mãe...
a pureza está perdida
e nada será como antes.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Aqui ponho um ponto final
Estabelecendo o fim desse silêncio

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Canção de sete palmos
Singelo acalanto pra morte
Melodia de terra e raiz

segunda-feira, 29 de junho de 2009

VIRGINEA

Exala o ar que exala das virgens
Iracema encarnada
índia alencarina
flor de minha terra
olhe para os céus e sorria...
alegria de dia chuvoso

mãe das àguas
lenda de meu povo
beije a terra e chore
triste e seco dia de sol

pedaço desgarrado do paraíso
torne-se ar
torne-se terra
torne-se fogo
virginea alma que paira
sobre o mundo dos homens
Uma sombra me persegue
eu a persigo
dentro da escuridão
quando ando na noite
à beira do abismo...
Ah! Uma sombra me perseguenos lugares onde vou!
Por todos os dias,
pro resto da minha vida.
uma sombra...uma sombra.
a fumaça dos cigaros...
seu cheiro.
Seu gosto no próximo copo.
Uma sombra...
costurada aos meus pés tal qual Peter Pan.
Quantas noites fugi,
quantas noites a busquei
nos bares,
nas ruas,
nos sonhos
sempre me encontro,
negra sombra,
pisando sobre os teus passos.

sábado, 6 de junho de 2009

Vida

Histórias de vento, contos de areia, memórias do mar, dores do sol. Moscas varejeiras que circulam sob meu cérebro e se alimentam da podridão de minha alma, fecundam a lama que se acumula em minha boca com o que há de vivo, com o que há de vil, com o que há... Vida! Essa velha bandida que nos dá o que não queremos, que nos serve o que não devemos recusar... Vida! Quando me trouxeram a cabeça em uma bandeja eu ri, ri de mim e ri do mundo. Meu velho amigo, meu velho falso amigo, pra onde caminhamos nesses dias turvos? Para onde vamos enquanto não temos para onde ir? Estaríamos melhor inertes? Plantados sobre o Monte Zion a observar a chuva de balas? Minha cabeça dói! Meu coração encerra uma velha maldição... Eu sei que estou perdido, mas quem não está?! Então, prefiro semear a terra com meus olhos e regar com sangue, meu sangue e o sangue de meu filho. Mas não nutra esperanças vãs, afinal ainda estamos vivos.

Veneno da madrugada

Essa noite o que brota dos meus dedos é a erva venenosa dos campos dos sonhos, da terra onde mortos e vivos se encontram pra lamentar o tédio da existência. Noite sem fim! Meus olhos pesam toneladas, minhas veias ardem... Todo meu corpo cheira a soro, todo meu corpo fede como se já a muito estivesse apodrecido. Já andei pelas ruas ferido de morte , me retorci no escuro de uma casa vazia, eu sei que fui derrotado! Já devorei almas inocentes, e cuspi na cara de deus, já fui ao chão em desgraça. Para os meus pecados não há perdão...Não há perdão! Nessa noite, de cabeça cheia, de coração lacerado, escorre dos meus dedos o sangue negro do demônio, sangue que escorre pelo quarto, que escorre pela sala e que procura a rua; que procura os bares, as vielas, os becos, as sombras onde em outro tempo saciei minha sede. Já podem descer aves de rapina! Desçam sei que já a muito desejam a carne da minha carne, o sangue do meu sangue. Aproveitem... Hoje é o dia do festim.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Esperaste a alvorada? Com os dentes serrados esperaste a alvorada, Homem só? Esperaste? O dia sem cor,cheio de lamentos; a tarde morna, cheirando morte. Melhor dormir sob os lençóis dos mendigos da estação, sob o céu dos lunáticos, torpe pelo álcool das garrafas-amuleto benzidas pela aguardente... Espera... Espera... Homem só! Não aguarde os primeiros raios de sol, melhor será esquivar-se a luz, melhor será esconder-se num recanto de si, sob a poeira dos tempos, sob fuligem das ruas, longe do riso das pessoas, longe do fogo das almas alheias porque a alvorada vem sem dó nem piedade.

Em minha cabeça

Abelhas se enroscam nos meus cabelos, Galhos se enroscam nos meus cabelos, piolhos se alimentam do meu sangue, mas os besouros se alimentam de más idéias de minha cabeça eu bem sei! Muitos e muitos besouros de varias cores e tamanhos já fazem parte de mim, mas, ainda homens e mulheres se enroscam nos meus cabelos, outros animais e abjetos se enroscam também, todos presos e contaminados pelos meus pensamentos. E já crescem plantas sob minha cabeça, retorcidas como a flora da caatinga e Já tenho notado algo estranho enroscado em meus cabelos! Por entre os cachos, por entre mexas enredam-se... Palavras! Palavras tem se enroscado em meus cabelos, à noite não me deixam dormir, movimentando-se sobre minha cabeça, formando frases desconexas, ou pior, frases com algum sentido. Eu arrancaria os cabelos se não fosse possível que eu me enroscasse nos meus próprios cachos, e me contaminasse com minhas próprias idéias, e me perdesse em meus devaneios... E se assim eu morresse talvez meu corpo em decomposição viesse a alimentar meus próprios sonhos.

Plantado

Eu me enterrei aqui nesse lugar. Perdi o tempo de ir embora agora estou enterrado, fincado, enclausurado num vaso. Terra, ar, fogo e água. Água? É... Eu perdi o tempo de ir embora! Quem diria! Hoje eu tenho raízes, mas são raízes invertidas, raízes que me ligam ao céu dessa terra, raízes plantadas no solo das nuvens. Nas nuvens!Nas nuvens? É... Eu perdi o tempo de ir embora! Minha pele seca já é uma parte desse lugar, já nascem frutos amargos da ponta dos meus dedos. Esse inclemente e odiado sol que me queima até mesmo ele é incapaz de secar minhas lágrimas que por sua vez são incapazes de molhar o chão do meu peito... É! Eu perdi o tempo de ir, agora a tristeza é o meu lar.