segunda-feira, 28 de outubro de 2019


OS CINCO CORTES DAS FACAS GINSU

PRIMEIRO CORTE

A faca corta o cordão
Gosto de carne e sangue
Cortar e fazer sangrar
Futuro vício da lâmina

SEGUNDO CORTE

Com a faca afiada
aos poucos corta-se muito
Da lida a vida
corte profundo
corta-se a alma
corta-se o mundo
 pelo corte me foge
                                a essência.
Eis a ciência da lâmina.

TERCEIRO CORTE

Como do corte da faca a ferida
Só uma coisa na vida é certa
                           Que venha a morte
                           Sorte pra quem fica
Fossemos  mais sábios...
e a faca cega.

 Nota de roda pé:
[2008, ano de minha morte
Secionadas as veias do coração
Foram-se os dedos onde antes haviam anéis
Meteram-se pés pelas mãos.
 Dia sim, dia não
Sigo eu os sinais de sangue
Da origem aos seus pés
A faca em seu novo corte! ]






sexta-feira, 19 de julho de 2019

Luzia
Luziu
Luz do dia

raio de sol
água de rio

eu me rio
             
do sorriso de Luzia

sábado, 8 de junho de 2019

A volta.

Jesus vai voltar
vai voltar como favelado
preto, pobre, da quebrada
vai pregar no sarau da periferia
levar baculejo, tapa e esculacho da PM

Jesus vai voltar
vai voltar como mulher
vai levar a primeira, a segunda e a terceira pedra
vai tombar quase morta
enquanto lhe chamam:
PUTA!

Jesus vai voltar!
vai voltar como travesti
vão lhe cuspir na cara
vão lhe chamar de aberração
chute, pedra, tiro
vai sussurrar pelo pai
agonizando no meio fio

Jesus já voltou!
Como? Você nem viu!
quase tropeçou sobre  seu corpo
"Filho da puta! Atrapalhando a passagem"
Caminhava apressado
Avistando, distante, as portas da igreja.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Da viajem

                Á Italo Coelho

A fumaça
nada indica
em linha reta
sigo a seta
[o caminho das flores]
antes que seda
e se quede
como se fosse
cann. sativa

sexta-feira, 19 de abril de 2019

De um arauto terceiromundista



Eu que sou filho da Terra
eu que sou filho da Mata
eu que sou filho do Sol Inclemente
eu que sangrei e que sangro

Não me rendi
e não me renderei

Hei de permanecer plantado
na alma de quem se move e luta

Aponto minha lança para o futuro
disparo certeiro no coração do mito...
o que mais-valia já não vale tanto
emergindo da lama do espanto
voltarei
para reclamar o mundo
e a essência que a mim pertence.

domingo, 7 de abril de 2019


                   Aos loucos da minha cidade.
Santa,

me abraça
entre seus braços,

junto a seus seios

comprimido

me deixo derreter

lentamente

santa,
escute só o alarido.

gritos,

sussuros,

gemidos.

Contra o muro

encardido

lhe chamam:
                   Tereza!


Vai rumo ao infinito
bendito ato desprovido de atrito
segue bem leve
alma, corpo e tenho dito:
é pó, poeira, matéria prima de estrela
segue frio no  vazio da noite
silenciosamente flutua livre no espaço
vida que segue em seu ato
me diz o tempo um dia vai lhe devorar
me diz o tempo um dia vai lhe devorar